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APOIO VOCAL: A RESPIRAÇÃO E SEUS MITOS

 

Hoje vamos falar de um tema um pouco “polêmico” no meio do canto profissional e das técnicas vocais: o apoio vocal ou suporte, ou sustentação.

Tenho certeza de que já ouviram diversas abordagens sobre este tema e todas devem ser respeitadas. Mas quero relatar aqui aquela que tem feito mais sentido para mim no momento e que tem tido eficácia no meu trabalho com os alunos.

Quando falamos em apoio logo nos vem à mente uma série de imagens: do diafragma, das costelas, dos músculos intercostais externos, dos intercostais internos, do períneo, do reto abdominal, do transverso do abdômen, dos oblíquos, dos músculos lombares etc. E isso já é o suficiente para nos encontrarmos preocupados com a forma que devemos respirar.

Durante os treinos de voz ou aulas de canto, muitos de nós recebemos ensinamentos baseados numa linha de raciocínio em que as orientações se dão da seguinte forma: “Apoia mais!”; “Expande as costelas!”; “Abaixa o diafragma e mantém ele baixo!”; “Agora empurra pra fora e depois relaxa!”.

Ufa! São tantos comandos! Ninguém consegue relaxar enquanto se pensa em uma série de movimentos que o nosso corpo, na verdade, já está programado a fazer.

Eu já passei por isso e sei que muitos cantores sofrem em tentar entender quais os músculos envolvidos no processo do apoio. E, o pior, tentam controlar minuciosamente cada um dos músculos desse complexo sistema que  é automático.

E toda  essa incerteza sobre como apoiar acaba minando e contaminando a cabeça do cantor que tenta entender e dominar o que não é, nem de longe, a parte mais importante do canto.

Sendo assim, o que é apoio? Toda literatura de técnica vocal resulta numa única ideia: CONTROLE RESPIRATÓRIO. No processo respiratório estão envolvidas a inspiração e a expiração. Para uma inspiração eficiente para o canto, não podemos ter tensão e nosso foco, preferencialmente, não deve ser clavicular. Qualquer respiração tensa é problema pra qualquer atividade, até mesmo pra caminhar até a esquina da sua casa.

Você deve falar: “ Mas eu devo pensar em baixar o diafragma, abrir as costelas e tudo mais”. Essa é a grande sacada! Pra que, se já é tudo automático? Vou te dar um exemplo.

Se você se deitar e colocar um livro sobre o umbigo perceberá rapidamente que tanto o umbigo quanto costelas tiveram movimentações. E de repente você poderá pensar:  “Mas eu queria abrir mais as costelas”. Mas PRA QUE? Você não precisa de muito ar pra cantar. Quanto mais para o agudo, inclusive, menos ar você usa pois a massa vibratória das pregas vocais é menor. Além disso, movimentações exageradas desses músculos causam muita tensão desnecessária.

Agora vamos pensar na outra etapa do processo respiratório: a expiração.

No caso da expiração faz um sentido enorme pensarmos no apoio como controle, não é mesmo? Afinal de contas, temos que controlar o impulso vocal que é diferente de apoio e controlar a famosa coluna de ar. Aqui quero citar uma outra verdade crucial: você já controla tudo isso conscientemente. Não precisa pensar em N, músculos para controlar a quantidade de ar que você expira. Tampouco o impulso vocal.

Esse controle é uma das maiores qualidades NATURAIS do cantor. Nós fazemos tudo isso automaticamente pois temos a percepção cinestésica ou seja, propriocepção  do quanto podemos mandar de ar para as nossas sensíveis pregas vocais. Além disso, a própria música, em termos de dinâmica, vai nos pedir mais ou menos ar.

A  maioria das pedagogias vocais têm seu foco no apoio já que o ar é de fato, o combustível do som. Assim ,  toda pedagogia vocal, com base nas leis da produção do som vocal, tem por objetivo a seguinte premissa: Equilibrar a relação Ar X Pregas Vocais. Talvez por isso muitos se percam dissertando demasiadamente sobre a função respiratória no canto.

Na verdade, nessa nova concepção em que me guio devemos relacionar ar e som nos nossos treinos vocais, e não nos concentrar somente na respiração. Até mesmo porque o problema dificilmente está na respiração em si, mas sim na “válvula” que regula toda a expulsão de ar.

E quem é responsável por esse papel de “válvula” da expiração? A laringe e as pregas vocais. O Dr. Hubert Noe, otorrinolaringologista e professor de canto Austríaco, traçou uma analogia muito importante para a compreensão do trabalho conjunto (ar e som) ao invés do exagerado trabalho do apoio em si. Veja a imagem a seguir:

Na imagem acima o Dr. Hubert Noe nos propõe a seguinte reflexão. Pensemos no balão e no trabalho dele em expulsar o ar de dentro de si. No quadro 1 a intervenção é feita diretamente na boca do balão, o que, para nós, seria a laringe e as pregas vocais. No quadro 2 a intervenção é feita no corpo do balão, o que, para nós seriam as costelas e os músculos abdominais, por exemplo.

Essa reflexão nos faz perceber que o trabalho no corpo do balão é inválido caso sua válvula (a boca do balão) esteja ineficientemente fechada. Para nós cantores isso nos remete à seguinte situação: de nada adianta pensarmos em ampliar movimentações de costelas, músculos abdominais etc, para controlar nosso regime de expulsão de ar. Mais vale pensarmos em aumentar nossa eficiência das pregas vocais, melhorando a adução em toda a extensão e equilibrando a função de tensionamento entre os músculos TA e CT.

Apoiar é importante? Claro que é. Mas é automático! Não precisamos pensar em milhões de coisas antes de abrir a boca pra cantarmos, tampouco condicionar, exageradamente, nossas costelas ou abdômen. Basta prepararmos nossas pregas vocais para agirem de maneira muito mais eficiente frente à coluna de ar que dedicamos ao canto.

Enfim quero ressaltar que essa visão é endossada por cientistas da voz, pedagogos vocais e voice coaches de diversas partes do mundo.

Se você já se flagrou perguntando para você mesmo se apoiar mais ainda vai fazer você chegar em uma determinada nota, ou se já experimentou de tudo e ainda se sente “perdido” ou “perdida” com a sua voz e sua respiração, porque não experimentar essa alternativa?

Allan Patrick, é cantor/compositor e professor de canto, filiado ao Full Voice, referência em técnica vocal no Brasil.