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Dr. Ângelo Feres fala sobre o Dia Internacional de Combate a AIDS

Dia primeiro de dezembro foi celebrado o Dia Internacional de Combate a Aids. De acordo com a Unaids – (órgão das Nações Unidas para lidar com a Aids) – o número de pessoas afetadas por esta doença teve um aumento de 3% em 2016. A AIDS é uma doença séria e esse assunto precisa que ser entendidos falado. A Unimed entrevistou o médico Ângelo Feres, que é coordenador do programa municipal IST HIV AIDS de Barbacena. Confira esse bate papo esclarecedor e que serve como um grito de alerta a toda população.

Unimed: Qual a diferença entre o HIV e a AIDS?

Doutor Ângelo Feres: Eu acho que a forma mais simples de compreender, é imaginar como se a gente estivesse andando em um caminho, que tem uma estrada colateral. Enquanto a pessoa é HIV negativo, ela está numa determinada estrada. No momento em que ela contrai o vírus, é como se ela, ao seguir nessa estrada, por algum motivo, não tivesse prestado atenção na sinalização que foi colocada. Porque essa sinalização é colocada pela estratégia de prevenção, que iremos detalhar mais tarde. Então, a pessoa não viu essas placas e o carro dela saiu dessa estrada e foi para uma outra onde ela se torna HIV positiva. Caminhando nessa outra estrada, num primeiro momento, essa pessoa nem vai perceber que mudou de estrada. Porque o asfalto está do mesmo jeito, o tempo está do mesmo jeito. Então, não dá para perceber a diferença. Com o tempo passando, este carro nunca vai parar, ele vai caminhando. Em algumas pessoas ele anda mais rápido, em outras, mais devagar. Então, o período que o carro está andando na outra estrada e a pessoa já é HIV positivo e não está sentindo nada, a doença vai progredir e o carro vai andando adiante. Quando você começa a ter os pré-sintomas da imunodeficiência, que é o que a gente chama de AIDS, é como se a estrada começasse a ficar esburacada, o tempo vai ficando mais fechado até finalmente a pessoa ficar profundamente doente. Então, é muito importante entender que o teste diagnóstico do HIV identifica e separa as pessoas que estão numa estrada e que estão na outra. Se você correu algum risco de errar este caminho, vem fazer o teste e ele está negativo, significa que você está na estrada correta, na estrada onde você não tem o vírus. Se o seu teste deu positivo e você não está sentindo nada, significa que você mudou de estrada, mas ainda não está na estrada esburacada.

Unimed: Existem sintomas específicos para o HIV positivo?

Doutor Ângelo Feres: A AIDS ou a SIDA, como é o nome brasileiro da doença, é uma síndrome de imunodeficiência adquirida. As síndromes, normalmente, se caracterizam por atingir diversos sistemas simultaneamente. Então, quando a pessoa está no momento da síndrome, a doença pode aparecer em qualquer sistema. Ela pode aflorar na pele, no sistema nervoso central, na boca, no aparelho digestivo, no pulmão, no cérebro, porque realmente pode atingir qualquer sistema. Mas, nós sabemos que, muitas vezes, antes de chegar nesse momento sindrômico da doença, a pessoa tem o corpo muito inflamado, mas ela não percebe. Mas a presença do vírus e a replicação rápida dele no organismo, leva a uma resposta inflamatória, em que o corpo se torna todo inflamado. Então, você tem uma série de substâncias inflamatórias agindo no corpo do indivíduo. Essa inflamação crônica pode levar a pessoa a uma fadiga maior, pode levar a pessoa a não conseguir realizar determinada atividade física que antes conseguia praticar, muitas vezes, até antes da doença mostrar a sua cara sindrômica. Então, você tem aquele período na estrada que não sente nada, tem o período que começa a esburacar e você tem a chegada nessa cidade, que chamamos de imunodeficiência.

Unimed: Por isso que esse diagnóstico precoce é essencial, ou seja, se a pessoa acha que saiu da estrada, ela deve imediatamente procurar auxílio médico.

Doutor Ângelo Feres: Essencial, porque, na verdade, há dois tipos de prevenção. A chamada prevenção negativa, que a pessoa que está na estrada e que não tem o HIV, evitar que ela contraia o HIV. Ela precisa saber quais os instrumentos e as armas que ela tem para não contrair o HIV. Se ela contraiu, ela vai entrar na chamada prevenção positiva, que é não ficar doente. Ou seja, ou eu tento evitar que a pessoa entre na estrada, se tornando HIV positivo, ou eu tento evitar que a doença progrida para um quadro realmente de doença. É até ai que nós fazemos a diferença entre Infecção Sexualmente Transmissível (IST) e Doença Sexualmente Transmissível (DST), porque a doença leva a pessoa ao médico, a infecção, não. A infecção é inaparente, muitas vezes, discreta. Por isso, é importante pegar as pessoas na fase da infecção e não da doença.

Unimed: Queria que você comentasse alguns mitos e verdades que estão presentes, principalmente, na internet e ainda geram muita dúvida na cabeça das pessoas.

Unimed: Se eu fizer sexo com a camisinha corretamente o HIV é transmitido?

Doutor Ângelo Feres: Não, porque a gente sabe que o HIV é uma partícula muito pequena e que não tem a menor possibilidade dela atravessar a camisinha, se ela não estourar. Então, realmente, não pode ter nenhum furo. É bom lembrar que depois que a relação terminou, ao retirar a camisinha, a pessoa deve conferir o preservativo para ver se ele teve algum tipo de furo. Porque se rasgar nós vemos facilmente, mas um furo, às vezes, a gente não vê. Eu aconselho as pessoas que, ao tirarem a camisinha, que elas coloquem um pouco de água nela e vejam se a água está vazando. Porque se estiver saindo, significa que houve um acidente. Lembrando que todas as práticas sexuais devem ser feitas com camisinha, o sexo oral, anal e vaginal. E o que acontece muito é o sexo oral praticado sem preservativo.

Unimed: No sexo oral, se um dos parceiros está contaminado, a outra pessoa pode se contaminar?

Doutor Ângelo Feres: A gente tem que lembrar que a transmissão do HIV não é 100%. A gente teria 7% de risco no sexo vaginal, 10% na via anal e 5% na via oral. Isso significa que todas as práticas têm risco, porém, diferentes. Falando nisso, é como se você imaginasse uma pessoa HIV positiva, sem tratamento, com carga viral alta, que transasse com 100 pessoas. Ela teria a chance de transmitir para 10 e não para 90. Então, na verdade, como os riscos são menores, mas existem, todas as práticas deveriam ser feitas de forma adequada.

Unimed: Compartilhamento de objetos como sabonete, toalha, lençol, talheres pode transmitir o vírus?

Doutor Ângelo Feres: Não, de jeito nenhum, não há nenhuma possibilidade. Nós já temos quase 40 anos de AIDS e nunca tivemos um caso secundário dentro de um domicílio que mostrasse a possibilidade de uma transmissão que não fosse as que nós já conhecemos.

Unimed: Uma mãe infectada pode transmitir AIDS para o filho durante a gravidez?

Doutor Ângelo Feres: Esse, inclusive, foi um grande problema porque quando a gente saiu do início da epidemia, em que nós primeiro tínhamos muitos homens infectados e depois passamos a ter as mulheres, mulheres em idade fértil, que chegavam ao serviço do pré-natal com o teste positivo, desde 1990 que nós receitamos remédios para estas mulheres. Eu mesmo já atendi umas 32 gestantes com HIV e, infelizmente, tive uma criança infectada porque a mãe não conseguiu seguir as orientações terapêuticas que foram dadas. Então, nesse caso, ficou claro que a mãe que toma o remédio não transmite.

Unimed: Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados, alicate de manicure, tesouras. O HIV pode ser transmitido por esses objetos?

Doutor Ângelo Feres: Na verdade, o HIV não atravessa a pele sadia. Então, toda vez que eu tenho uma solução de continuidade produzida por uma faca, uma agulha, alguma coisa que cortou essa pele ou abriu uma porta de entrada. É mais importante entender que como o HIV está no sangue, ele não está na pele, esses acidentes se tornam mais arriscados quando há a possibilidade do sangue de uma pessoa entrar no meu meio interno pelo corte. Então, se o sangue caiu numa pele sadia, foi um machucado muito superficial em que não teve nenhum contato com o sangue, esse não tem risco. O risco está exatamente quando o sangue de alguém entra em contato com o sangue da outra pessoa.

Unimed: Picada de inseto, transmite?

Doutor Ângelo Feres: De jeito nenhum, porque o H do HIV é um H de humano. Então, esse HIV é um parasita celular obrigatório e ele vai precisar do linfócito T4 para fazer a sua replicação. Esse linfócito não existe em outro animal. Então, ele jamais vai sobreviver num mosquito ou alguma coisa do tipo.

Unimed: Vamos reforçar um pouco a questão da prevenção. O que é possível fazer para prevenir a AIDS?

Doutor Ângelo Feres: O carro chefe da prevenção desde o início foi o preservativo feminino e masculino, porque se achava uma linguagem mais simples e mais fácil de se difundir. Mas o que a gente vê hoje, de 2017 a 2018, nós registramos 80 casos aqui no serviço de HIV e registramos mais de 230 casos de sífilis. Então, se a gente for pensar nos 10%, para eu ter 80 casos de HIV, nós vamos ter 800 pessoas se expondo em Barbacena e região. Então, a gente sabe que a camisinha vem fracassando, apesar de ser tão falada o tempo todo. A camisinha é sinônimo de sexo seguro. Conseguir uma assepsia sexual, a gente não consegue, porque é um momento de intimidade, sempre tem saliva, sempre tem alguma coisa. Com isso, se agregou na prevenção a profilaxia pós-exposição (PEP). Ou seja, se a pessoa saiu com alguém, viveu uma situação de risco, a camisinha estourou, teve relação com uma pessoa que não conhece, ela pode usar remédio durante 28 dias para evitar a infecção. Esses remédios podem dar uma proteção de 80 a 90%. Os comprimidos ficam na Santa Casa, sete dias por semana e 24 horas por dia. Se a pessoa se expôs a uma situação, ela pode ir na Santa Casa que vai disponibilizar os comprimidos, que dê para ela ir tomando até chegar aqui no CTA, onde eu vou fazer um julgamento da situação e, se for necessário, completar essa profilaxia para 28 dias. Então, nós temos as camisinhas, os remédios, o teste, o diálogo, temos a abstinência e também podemos adiar uma situação. Ou seja, se eu estou na premissa de partir para uma relação sexual com alguém, eu também posso adiar aquilo, também posso dizer não quero ou não vou. É melhor do que entrar numa situação arriscada e contrair alguma coisa. E, se você correr o risco, toda vez que isso acontecer, não houve o uso nem de profilaxia nem de camisinha, 30 dias depois o teste deve ser feito.

Unimed: Nós sabemos que hoje o tratamento evoluiu muito, as pessoas conseguem ter uma qualidade de vida satisfatória, se elas tiverem um acompanhamento médico, mas eu queria que a gente esclarecesse e reforçasse que a AIDS é uma doença grave e que não tem cura.

Doutor Ângelo Feres: Isso, na verdade, foi exatamente o que não mudou. Quando eu pego 80 casos em dois anos, como eu estou aqui mais de 20 anos, é a primeira vez que eu vejo essa quantidade de casos em menos de dois anos, que foi de janeiro de 2017 a outubro de 2018. Então, na verdade, a gente percebe que o tratamento e algumas situações que a medicina conquistou fizeram com que as pessoas se esquecessem um pouco da doença. Mas eu acho importante lembrar que o que mudou foi isso. Nós temos um diagnóstico

rápido, através de um teste rápido, de 15 minutos, temos um remédio bom, que o ministério fornece e vamos lembrar que o remédio é pago, apesar de você não desembolsar o dinheiro, ele está sendo pago por alguém. E, na medida que o número de casos vem aumentando, o custo do tratamento aumenta também. E o entendimento que tem que tomar remédio pelo resto da vida, e se não tomar o remédio a pessoa morre. Isso caracteriza a doença que não tem cura e é grave. E vamos lembrar que quanto mais jovem você pegar essa doença, mais tempo de remédio você vai ter. E por melhor que o remédio seja, ele vai ter a longo prazo, alguns efeitos na parte metabólica do fígado e alguns órgãos que podem ser afetados, como os rins.

Unimed: Para encerrar, vamos reforçar a questão da importância da pessoa não ter vergonha. Se ela precisar procurar o auxílio médico, vir ao CTA para ter um diagnóstico positivo ou não, e a partir daí buscar um melhor caminho.

Doutor Ângelo Feres: Exatamente. O CTA é centro de testagem e aconselhamento, sendo o aconselhamento é a base fundamental no nosso trabalho, porque você poderia ir em qualquer laboratório e simplesmente fazer um teste. Mas, ao passar pelo aconselhamento pré-teste e pós-teste, a nossa intenção é que todos as pessoas que buscam o serviço, não saiam da mesma forma que elas entraram. Elas vão sair daqui com um conhecimento a mais, com algum tipo de reflexão sobre as suas práticas, com uma possibilidade melhor de mudar essa prática, com uma forma mais segura de viver. Então, eu acho que nós temos o aspecto da sexualidade envolvido, quando você fala de constrangimento e de buscar, eu acho que é muito isso. Você vai falar sobre essa sexualidade. Não precisa ter medo, nós atendemos a todo tipo de pessoas, não tem nenhum tipo de julgamento de valores aqui. Lembrando que é fundamental estar buscando este teste e aconselhamento para que você possa realmente saber o que está acontecendo com você. Ou seja, se eu tenho o vírus, eu sei como tratar. Se eu não tenho, vou passar a trazer mais segurança para não adquirir.

Fonte: Assessoria de Comunicação-Unimed Barbacena.